segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A chegada de Hannah

Ela chegou no dia 23 de agosto, à 1h17 da manhã. Quando o sol raiou, ela dormia a meu lado, na cama da Casa de Parto (Centro de Parto Normal - CPN) do Hospital Sofia Feldman. Meu esposo dormia na cadeira ao fundo do quarto; só faltava a pequena Maya para a família estar completa ali, e é importante mencionar também que faltava a minha mãezinha, que cuidava de Maya, em casa. Tive um parto a jato. Entrei na fase ativa do trabalho de parto às 21h da noite da sexta, 22 de agosto, e em quatro horas eu já tinha dilatação total. A bolsa rompeu ainda na recepção do hospital e descemos para o CPN às pressas. O parto não pôde ser feito na água, como era meu sonho; não houve tempo para encher a banheira. Mas fomos ao chuveiro, e Hannah nasceu estando eu de cócoras, sentada no banquinho meia-lua. Papai cortou o cordão, e a separou do último elo com o mundo intrauterino, e minha filhinha deixou sua porção aquática para trás; ela foi trazida ao mundo aeróbico e nos deu um chorinho lindo de bebê. Seus pulmões nos sinalizaram que ela já estava presente entre nós, que aquela criaturinha entre meus braços finalmente tinha vindo à luz para completar a minha alegria, para inundar de luz a minha alma, para dar mais intensidade e significados a meu mundo. Eu era mãe pela segunda vez, e realizara meu sonho de ter um parto natural.

Quando chegamos ao hospital, as dores já eram intensas. Depois de passar pela triagem, fiquei sentada na recepção, aguardando me chamarem para a internação. À medida que a intensidade da dor foi aumentando, eu já queria sair dali e virar bicho. Avisei meu esposo de que iria lá pra fora, eu sentia que aquele momento era de ficar um pouco sozinha, de me concentrar na dor e em seus caminhos, de dar chance a meu corpo de me ajudar a parir melhor.

Saí pro jardinzinho do hospital e me sentei num dos banquinhos que há lá. As contrações eram como uma dança em meu corpo: ritmadas, líquidas, movendo-se continuamente. Sentada, com as costas eretas, eu respirava fundo, tentando levar o ar até a bacia. Vocalizava ao exalar, e tentava relaxar entre uma contração e outra. Depois de algumas contrações e da disciplina da respiração lenta, perdi a noção do tempo e mergulhei no abismo escuro da dor. A dor era isto: um abismo sem tempo e forma, onde meu corpo não tinha mais peso e dentro do qual eu caía lentamente. Não sei quanto tempo durou tudo... Meia hora, uma hora, talvez. Sentia como a dor dilacerava meu corpo, mas eu pertencia completamente a ela, sem medo, respirando lenta e profundamente. Houvesse o que houvesse, respirar era o único fio que me unia àquele jardim e ao ar fresco daquela noite. O resto era escuro. Mas eu não tinha medo. Aquela dor era amiga, era a fronteira entre Hannah e eu, era como uma linha de fogo que me separava do momento em que teria a pequena em meu colo. Não lutei com essa dor, me entreguei a ela e, então, ela se tornou minha aliada, senti como meu corpo se abria, literalmente. Eu passei da vocalização aos gemidos, dos gemidos ao choro entrecortado, do choro à prece. Rezava, pedia a Deus que fosse já, que meu corpo estava exausto. Existe muito de divino em um parto: a força, o inexplicável, o que não se vê e nem se toca, mas que está ali.

Enquanto eu entrava em contato com o primitivo que há em mim - que há em todos nós -, meu esposo acompanhava tudo da janela da recepção. Ele respeitou meu desejo de ficar sozinha, mas acompanhava cada passo meu. Quando sinto dor, eu gosto de ficar quietinha. Não sou de ficar aos gritos, nem de quebrar o mundo. Acho que sou meio estoica para sentir dor. E sou meio bicho também. Lembro de uma cachorrinha que tivemos em casa, e de como ela se refugiava numa das laterais da casa para parir. Ela se afastava de todos para dar à luz, aquele era um momento só dela, a natureza tem dessas sabedorias.

Quando a dilatação estava completa, comecei a sentir os puxos. E são inconfundíveis. Nenhuma mulher se engana quando já é hora de dar à luz porque o corpo grita através dos músculos, o corpo anuncia que já é hora de entregar ao mundo a cria. Nesse momento, olhei em direção à janela, e meu esposo veio correndo até mim. Eu disse a ele algo como "já vai nascer", tentei mas não consegui ficar em pé, senti puxos mais fortes ainda, me sentei outra vez e respirei fundo. Tomei fôlego, me apoiei nele e entramos no hospital. Ao chegar na recepção, tive outra contração fortíssima, me abracei a ele e, nesse momento, senti como a bolsa se rompia: um líquido quente encharcou minha calça e os sapatos, molhando, também, a entrada da sala. Fomos levados para uma salinha e eu me deitei em uma maca. Hannah já quase nascia, não havia enfermeiras ali e pedi a meu marido que corresse porque a bebê já estava coroando. Eu não queria que minha filha nascesse numa maca, queria o parto na água! Quando as enfermeiras chegaram, confirmaram que eu já tinha dilatação total e a bebê já estava coroando. Uma delas disse "vamos descer pro CPN, ela quer ter o bebê lá", e eu pensei "Como vou caminhar quase parindo??". A enfermeira me tranquilizou, me disse que tudo daria certo, e nesse momento meu parto se  tornou digno de um roteiro de Almodóvar: a enfermeira passou um lençol entre minhas pernas, segurou as pontas na frente e atrás, eu me apoiei nela, e, assim, descemos os vários degraus que separam a recepção do hospital da casa de parto. Encorajada por duas enfermeiras e pelo meu marido, fomos, passo a passo, respirando fundo, caminhando aquela eternidade de distância. Elas me diziam "respira fundo, já estamos quase lá", e eu pensava "minha filha vai nascer num lençol". Conseguimos chegar ao quarto, caí sobre a cama, deitada de lado, já queria parir ali, meu corpo já não podia evitar a chegada da pequena ao mundo: dilatação total, bolsa rota, bebê a postos para nascer. Eu não via quantas pessoas havia a meu redor, mas eram, pelo menos, umas seis. Fui levada para o chuveiro, a vontade de parir era intensa, o corpo fica descontrolado quando já é hora de nascer, a cabeça da gente não pode fazer muito. Sentei no banquinho meia-lua e em poucos minutos Hannah estava em meus braços. 

Hannah nasceu medindo 51 cm e pesando 3.590 g; teve Apgar nota 9 no 1º minuto e 10 no 5º minuto; mamou na primeira hora de vida e nasceu gordinha e rosada, uma fofura! Quando voltei para a cama, foi quando lembrei de entregar às enfermeiras o meu plano de parto, e devo dizer que elas foram ótimas e, a partir de então, seguiram tudo o que pedi nele. Fotografamos a minha placenta - eu não iria conseguir levá-la pra casa, uma pena! - e passei toda a noite sem conseguir dormir, excitada com a novidade que dormia ao meu lado.

Maya e minha mãe chegaram ao hospital por volta do meio-dia seguinte. A reação de Maya ao ver Hannah em meus braços foi linda e surpreendente: "Que bebezinho mais 'munito', mamãe!", e eu entendi que minha filhinha mais velha era uma criatura incrível, capaz de ver a essência das coisas. O olhar generoso de Maya sobre Hannah me comoveu. 

Tivemos alta na manhã do domingo. Deixar a Casa de parto foi como deixar um lugar muito especial, onde ficou um pedacinho de mim. Eu exalava ocitocina até aquele momento, e me despedi das enfermeiras com muito carinho.

Sou profundamente grata à equipe do Hospital Sofia Feldman pelo parto respeitoso e pelo tratamento delicado que dispensaram a mim e a minha bebê. Todas as enfermeiras foram muito atenciosas e dedicadas, Hannah foi muito bem cuidada e eu, igualmente. A gente sente esperança quando vê que, num hospital público, é possível ter um parto humanizado e com dignidade. Confesso que, no princípio, foi preciso ter coragem para aceitar ter minha segunda filha através do SUS. Eu sou oriunda da cultura do plano de saúde, do atendimento pelo convênio, e pensar em abrir mão do parto em um hospital privado só foi possível porque a minha primeira experiência como parturiente me deixou muitos dissabores em relação ao hospital escolhido  - um hospital privado - e seus protocolos. A consciência de que, em maternidades e hospitais privados, a incidência de cesárias desnecessárias beira os 80 ou 90% me deu a certeza de que eu tentaria um caminho alternativo desta vez. E fui feliz em minha escolha, e foi acertada a minha decisão. Apesar de ter tido uma ótima experiência de parto e pós-parto, preciso fazer uma crítica construtiva ao hospital: a admissão foi excessivamente lenta, cheguei com TP avançado e tive que esperar uma hora e meia para que me internassem. Meu marido oficializou a minha internação depois de Hannah já ter nascido!! Se a admissão houvesse sido mais eficiente, eu poderia ter vivido um TP na água, já estando internada. Mas não faz mal. Fica a dica para outras mulheres: se já chegarem com TP avançado como eu, gritem!!! :)

Endosso todas as minhas palavras de 21 de agosto sobre a dor de parir e sobre a importância da respiração: meu trabalho de parto foi muito mais leve graças à respiração e à consciência daquilo que poderia ajudar meu corpo durante as dores das contrações. Espero que essas palavras possam incentivar outras mulheres a repensar a sua relação com a dor do parto e seus significados. 

Parir com respeito faz toda a diferença para a vida da mulher. Nascer com respeito faz toda a diferença para a vida do ser humano. 

Saudações maternas,


Biazinha


sábado, 24 de janeiro de 2015

A chegada de Maya

Agosto é o mês das grandes e belas realizações da minha vida; nesse mês eu me casei e nasceram as minhas duas lindas filhinhas. Como não achá-lo o mês mais especial, cheio de significados e transformador? É o mês que me ofereceu os três dias mais felizes da minha existência, com o casamento com o homem que amo e a chegada de minhas duas princesas.

 Reconstruo o relato da chegada de Maya, minha primogênita, nascida no dia 02 de agosto de 2011:

Depois de um ano e meio de casados, descobrimos que estávamos grávidos! Foi uma gestação maravilhosa, fazia ioga, caminhava, tive uma gravidez muito tranquila, sem nenhuma intercorrência. Esperávamos Maya para o dia 16 de agosto, a data provável do parto (DPP).  Eu tinha tido a intuição de que o parto seria antes do dia previsto, e, mesmo com a obstetra (GO) dizendo que seria na semana #39, liguei pra minha mãe e ela atendeu meu chamado. No dia 1º de agosto, uma segunda-feira, minha mãe chegou à nossa casa. Naquele dia, resolvemos juntos - meu marido, minha mãe e eu - vários detalhes pendentes do nascimento e do enxoval.

Na madrugada do dia 02, terça-feira, minha bolsa rompeu, eram as 04 da manhã. Acordei minha mãe, e contei a ela. Ela ficou muito ansiosa. Acordei, então, meu marido, e tratei de tranquilizá-lo, pois não queria pura ansiedade ao meu redor: eu sentia uma serenidade de monge tibetano. Liguei para a minha GO, quem me pediu que tomasse banho e voltasse a ligar pra ela em uma hora. Fiz isso e, então, ela me pediu que a encontrasse na maternidade às seis e meia.

Eu quis, desde o início, ter um parto normal. Por mais que a médica fosse abertamente cesarista, ela respeitou minha vontade e lá fomos nós, na aventura de parir minha filhinha. A maternidade estava repleta! Era lua nova, e, por mais que se diga que não há evidências científicas de que a lua interfira nos partos, minha porção bruxa acredita que não só os partos, mas tudo ligado ao feminino sofre influência da natureza e das fases da lua. 

Subimos para o andar dos quartos de pré-parto e a minha médica viu que eu tinha apenas 2 cm de dilatação. Como cheguei com bolsa rota, fui induzida para acelerar as contrações - isso é um protocolo daquele e de outros hospitais por aí, e é o que essa GO também segue à risca - e passei quatro horas deitada com contrações dilacerando minha carne. A ocitocina sintética não é uma experiência feliz, mas a chegada de minha filha me transmitia tanto amor e tanta paz, que não me importava passar por tudo aquilo, eu ansiava por ver sua carinha, por tê-la em meus braços, aninhá-la, beijá-la.

A equipe de enfermeiras e técnicas, e também os médicos, foram todos muito ansiosos, por mais que, vendo cá do alto de outra montanha, eu acredite que os procedimentos daquele hospital e daquelas circunstâncias não me agradem e eu não os queira repetir, insisto: a chegada de minha filha me transmitia tanto amor e tanta paz, que não me importava passar por tudo aquilo, eu queria sua carinha, tê-la pertinho, abraçá-la, beijá-la. 

Maya chegou ao mundo às 12h40 de uma terça-feira, e seu nascimento foi assistido por meu esposo, bem de pertinho. Fazia frio em Belo Horizonte e eu não conseguia acreditar que ela já estivesse comigo depois da espera de 38 semanas! Havíamos planejado filmar, ou pelo menos fotografar o parto, havíamos levado até o tripé da câmera, mas ficou tudo nos seus estojos: o momento é de tanta intensidade que parar para tirar fotografias pode fazer a gente perder o melhor da festa, que é a Vida brotando ali, diante de nossos olhos. As câmeras nos distraem, e podem artificializar a Vida, colocando-nos na expectativa de viver o "depois", o "quando eu descarregar essas fotos"...

Um parto que não foi o sonhado por mim não minimiza o amor que tenho por minha filha, nem a alegria de sua chegada. Naquele momento eu não tinha parâmetros para julgar nada, era o primeiro parto, e foi bom que tenha sido assim, pois o que realmente importou foi que ela nasceu saudável, linda e que eu estava bem, pronta para viver a maravilhosa experiência de ser mãe.

Mesmo com a ocitocina sintética, eu transbordava amor e alegria: o hormônio do amor ficou em minhas veias por mais de 24 horas, e isso era tudo que tinha a oferecer ao mundo naquele momento: o mais puro sentimento, ágape, ágape, ágape.

Haver chegado ao hospital com bolsa rota determinou o rumo que as coisas tomaram para aquele parto. Eu não fazia muita ideia de que procedimentos a GO tomaria naquela situação, nem ela havia conversado comigo sobre isso. Numa primeira gestação, quase sempre confiamos muito nos médicos e dizemos amém a tudo que eles nos dizem. O medo de que o bebê corra algum risco sempre persegue a mãe e o pai, por isso, se nos dizem que é melhor induzir logo, a gente diz que sim.

Eu achava, naquela época, que havia lido o suficiente sobre a gestação e o parto, e que havia me documentado o suficiente sobre o quê precisava saber. Mas não. Hoje, eu talvez não tivesse optado pela anestesia. Eu já tinha entre 8 e 9 centímetros de dilatação quando me anestesiaram. Passar o TP deitada é frustrante. A experiência de parir deitada também é péssima. Acho que essas são as coisas que eu mudaria, se pudesse. Mas já sei que nenhum parto é perfeito; tem que ser verdadeiro, intenso, tem que haver respeito.

O mais importante é que, junto com a filha, nasceu a mãe, nasci eu outra vez. Desta vez, nasci cheia de um amor capaz de muitas coisas, nasceu a generosidade e a vontade de fazer o melhor por aquele serzinho lindo e frágil.

Apesar das coisas que me desagradaram, minha filha nasceu bem, e isso é o que importa. Agora é preciso construir um mundo melhor para ela quando ela, um dia, for parir. É importante melhorar as condições do parto e do nascimento, as condições para a mãe e o bebê. Porque acredito que as coisas sempre podem melhorar, e tenho a experiência que serve de medida para o que pode ser.

Nasceu cercada de amor, minha doce Maya. Nasceu para trazer luz, magia e sonho ao mundo. Tudo o que seu nome anuncia. Meu amor imenso e incondicional por essa menininha dourada.  



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ela já está quase aqui & A dor de parir

Trinta e nove semanas e três dias. Ansiedade. Estou entre três e quatro centímetros de dilatação e contrações irregulares desde a noite da última segunda-feira. Este é o meu quadro atual. Que lindura é ver a natureza agindo sobre o corpo, o tempo de gestar e parir como Dios manda e nada nadinha de intervenções desnecessárias prévias à chegada da minha filhinha ao mundo. Ela já quase chega!

Meu médico obstetra viajou e pediu que a consulta desta semana fosse feita já com as obstetrizes do hospital onde Hannah nascerá. Hoje, lá fomos mami e eu à consulta. Chegamos lá às três e saímos às seis, com a certeza de que estou feliz com as escolhas para esse parto. Umas moças ótimas me atenderam, aferiram pressão, auscultaram minha bebê e fiz, depois de váaaaarios meses e consultas, um exame de toque, que identificou esse comecinho de dilatação delicioso. Bom, com a quantidade de contrações que venho sentindo desde segunda, eu só esperava mesmo era a confirmação de que a dilatação já andava por aí.

E pensar que cheguei naturalmente a essa dilatação, e que os próximos centímetros acontecerão do mesmo jeitinho me dá um friozinho bom na barriga, e alegra meu coração! As obstetrizes me pediram para caminhar, namorar, agachar, ficar em movimento e esperar com tranquilidade. Esta é a fase de latência do trabalho de parto, folks. Trata-se da fase inicial do trabalho de parto, e ela é responsável pela dilatação dos primeiros cinco centímetros do colo do útero. Os próximos cinco centímetros restantes configuram o que se chama fase ativa, e são contrações um bocadinho mais dolorosas, intensas e com menos intervalo entre elas. Estou louca por elas... ;)

Quando comecei a sentir contrações na segunda à noite, senti uma felicidade gigantesca e comentei com minha mãe e meu esposo que era a dor mais bonita que se pode ter. Bem, isso é um parodoxo, eu sei, afinal, dor não tem nada de bonito; só que a dor de parir é bonita porque sua idiossincrasia é a de ser um divisor de águas, é a de separar dois intervalos da sua vida: aquele em que você só pode sonhar com o rostinho de seu bebê e um outro, em que seu bebê tem corpo, cheiro, choro, calor, mãozinhas e pezinhos! 

Tenho refletido muito sobre a dor do parto. Li algumas coisas a respeito, vi vídeos em português e em espanhol, e cheguei à conclusão de que o conceito de dor é relativo por várias razões, vamos a elas:

1. Cada pessoa tem um nível de tolerância à dor, o que nos leva à conclusão, portanto, de que a dor é algo subjetivo: é pessoal e intransferível; cada uma sente a dor de uma maneira e a percepção desse processo é única.
2. A preparação para o parto fortalece corporal, emocional e psicologicamente a grávida para o momento das contrações, o que nos leva a crer que a relação criada com o gestar e o parir também determina o nível de dor e como vai-se lidar com ela.  
3. Ninguém é obrigad@ a sentir dor. Fármacos e tratamentos alternativos aliviam a dor e transformam o momento das contrações em algo mais leve. Portanto, renda-se aos fármacos e à analgesia se for preciso, sem culpa. Mas tente antes massagens na lombar, nas pernas e nos ombros, imersão em banheira e chuveiro, bola de pilates (o que ajuda muito a dilatar e a lidar com a dor).
4. Manter o foco na dor durante as contrações como algo que nos fará cruzar uma fronteira, um caminho nos ajuda a lidar melhor com ela. Essa dor é pontual, dura um determinado número de horas e tem uma função fisiológica: facilitar a expulsão do bebê do útero materno.
5. A natureza nos brindou com toda a estrutura física e a química natural necessárias ao trabalho de parto: temos músculos elásticos, ossos que se expandem, hormônios que nos ajudam a dilatar e a contrair, ligamentos e nervos que se estendem e ajudam a suportar o peso, a força e a pressão. Como não se maravilhar diante de tudo isso e acreditar que parir é algo que faz parte da nossa anatomia e fisiologia?
6.  A crença construída ao redor da dor do parto como algo insuportável, terminou por confundi-la com medos e sofrimentos, o que faz com que muitas mulheres recusem a experiência de parir pelo simples fato de não quererem marcar sua memória com algo feio, quando, na verdade, essa dor é um processo de transição como qualquer outro que envolva nascer, crescer, amadurecer e - por que não? - viver. 
7. Finalmente, considero algo imprescindível: saber tirar partido da respiração durante a dor. Respirar profunda e lentamente é chave para ajudar a enfrentar a dor e também relaxar. Quero compartilhar um vídeo que ensina a relaxar durante o trabalho de parto e explica como respirar vocalizando. Trata-se de, ao expirar, pronunciar um longo "a", o que ajuda a trabalhar o períneo e sentir menos dor.




Hannah já está quase aqui, e me sinto pronta para parir, com ou sem dor! 

Saudações maternas e aquele abraço,
Biazinha

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Semana #38

Hoje começa a semana #38. E eu confesso que é o ápice da ansiedade. Talvez, depois dela, venha uma calma meio anestesiada pela espera longa e pela resignação de que os ciclos se cumprem, queiramos ou não. 

Esta madrugada eu tive uma cólica forte, era 1h30. Acordei com a dor e fiquei esperando para ver se já eram as contrações; mas ainda não. Agradeci aos céus, afinal de contas, minha mãe chega amanhã cedo por aqui. Tive que lidar com a incerteza de se minha mãe conseguiria vir ou não, pois meu pai vai começar um tratamento de saúde e precisa viajar à capital do nosso estado para fazê-lo. Felizmente, minha tia - irmã dele - se prontificou a acompanhá-lo, o que liberou minha mãe para vir ficar comigo. Um segundo filho é mais delicado. Na hora em que você entra em trabalho de parto, surge sempre a preocupação de se ele estará bem cuidado por quem ficará com ele, e nada como a vovó para estar ali nesse momento de transição tão importante. E de susto, e surpresa, e ciúme, e novidade.

Nunca sei se o trabalho que fizemos com a pequena para prepará-la para a chegada da irmãzinha foi suficiente. As conversas, as explicações sobre os irmãos e irmãs, sobre um cuidar do outro, sobre compartilhar tudo a partir de agora, nunca sei se são suficientes. E a pequena meio que dissimulava quando o assunto era a chegada da irmã, ela se calava ou começava outro assunto... Acredito que é natural essa negação, pois além de ser pequenininha, ela não entende que haverá lugar para as duas em nossos corações e em nossas vidas. E mais: vejo que a relação que as crianças têm com os pais - sobretudo com a mãe -, a essa idade, é de posse. Uma posse de "é tudo meu". 

Faltam alguns detalhes para a chegada da pequena Hannah. Detalhes. O principal já foi feito, o ninho já está praticamente habitável, e essas minúcias não são imprescindíveis, mas trazem calor, aconchego, ternura, afeto para a sua chegada. 

Meu corpo anda pesado, já subi uns 16 quilos e talvez suba mais um pouco se a pequena decide nascer só depois de 39 semanas. A dor pélvica é meio chatinha e incomoda na hora de deitar ou levantar, e de caminhar. A dor lombar quase que desapareceu, mas faço massagens todos os dias nessa região para liberar a tensão muscular. E geralmente durmo bem depois dessas massagens milagrosas. O refluxo de há algumas semanas já me liberou do seu jugo, e o que anda mesmo difícil é caminhar, subir ladeiras, fazer as tarefas domésticas, pois a respiração me custa mais trabalho agora.

Se eu pudesse, eu ficava o dia inteiro vendo filmes. [Ai!...] Acho que ajudaria a controlar a ansiedade da reta final e me desligaria um pouco dos medos, angústias e me ajudaria a relaxar. Mas a vida real não tem me permitido tantas aventuras cinematográficas, a casa precisa ser cuidada, a comida precisa ser preparada e há os cuidados com a primogênita também, que não são poucos. O marido ajuda muito em tudo o que pode, mas há coisas que sou eu quem tem que fazer, não há outra solução.

Uma casa que vai receber um recém nascido precisa estar limpa, livre de pó e de qualquer cheiro forte, precisa ter cortinas lavadas, tapetes e cantos cuidadosamente aspirados, precisa ter roupas fresquinhas e tudo à mão para o sono, as trocas, o banho, a amamentação. Hoje, lavei o kit de proteção do berço, as capas da almofada de amamentação e do travesseiro, o saco de dormir lindo que foi de Maya e está completamente novo, o segura bebê que também foi de Maya e praticamente nem foi usado, enfim, tudo que já estava limpo mas precisava dar uma "sacudida" para tirar o pó. Ontem, montamos e higienizamos o berço, dá um calor bom no coração ver um berço montado!... [suspiros...]

A ansiedade me rouba a concentração, tem essa. Faço listas e mais listas do que urge fazer, mas não consigo ser completamente efetiva em meus propósitos, e agradeço a Hannah (Gracias, Hannah!) o fato de ainda não ter nascido, pois minha lista ainda tem alguns itens - já disse que não são imprescindíveis, mas são necessários! - por fazer. Ainda não lavei todas as roupinhas de recém nascido, por exemplo. Digamos que lavei a metade, e já está passadinha e dobradinha, pronta para ser acomodada na mala da maternidade. A mala da maternidade também já foi lavada e está tomando o último ar fresco de inverno lá fora, no nosso pátio. 

Hoje, é obrigatório escrever meu plano de parto. Quero que essa experiência seja mais inteira que a primeira. E uma das razões é que eu vou parir, ninguém vai me roubar essa dádiva. Por isso não gostaria de ter bolsa rota antes de começar o trabalho de parto, queria começar com as contrações e, só depois, que a bolsa rompesse. Assim, eu teria mais garantias de não precisar passar por uma indução, ou por intervenções, acho que esse fantasma não pode ir comigo à maternidade desta vez. 

É isso. Vou escrever meu plano de parto, acho que isso vai ajudar a organizar melhor meus sentimentos e me ajudará a ser mais efetiva com as outras coisas também. Volto depois para compartilhá-lo, inclusive porque acredito que ele poderá ser útil a outras mulheres.

Agradecida pelo dedim de prosa!

Saudações maternas,

Biazinha




sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A reta final da gestação

Hoje, eu entrei em licença maternidade. Entrei no tempo integral de prestar atenção na gestação, de curtir a presença ágil de Hannah em seus chutes e cotoveladas, o peso da pança da já quase 37ª semana, de ajeitar os últimos detalhes do ninho, de me preparar espiritual e emocionalmente para parir. Entrarei em contato com o famoso "empoderamento" da grávida para ter o parto mais leve e mais intenso possíveis, e isso não é um contraste impossível de ideias: leveza e intensidade casam muito bem.

Estou me conectando a outra temporalidade neste exato instante. A temporalidade do corpo gravídico, da espera dos últimos dias antes da chegada da pequena, do silêncio interior para ouvir o coração batendo, a pulsação de gestante, as contrações de treinamento me preparando para o grande dia do nascimento.

Por isso, decidi me afastar das redes sociais e me concentrar nas últimas semanas em que ainda estarei com essa menininha em minha pança. Não quero dissipar minha energia com as postagens bobas do facebook, nem quero perder meu tempo com coisas inúteis. 

Ainda me restam alguns detalhes do enxoval de Hannah por organizar, esta semana vou lavar as roupinhas dela, preparar algumas coisas para levar ao hospital no dia do parto, terminar as lembrancinhas do nascimento, fazer as fotos da pança para registrar a gravidez, enfim, coisas diversas que exigem tempo, energia, concentração.

E confesso que há tempos estou de saco cheio das redes sociais, gente destilando ódio e bobagens, ideias vazias e preconceitos. Acredito que agora é hora de empregar meu tempo de maneira inteligente, de cuidar da minha alma e do meu corpo. Principalmente porque necessito estar bem para receber minha Hannah, a chegada de um bebê exige muito da gente!

Volto depois para escrever um bocadinho mais, estou muito cansada agora e já passa da meia-noite, já é aniversário da minha Maya! Felicidades à minha pequena, muito amor e saúde para ela! Compartilho, aqui, o que publiquei no facebook sobre seu niver: 

Vamos falar de coisas alegres, né? Minha pequena completa três aninhos neste dia 02 de agosto! Ela nos enche da alegria mais genuína possível e colore nossos dias! O caminho com ela é mais bonito e a Vida, sem dúvida, vale mais a pena desde 02 de agosto de 2011! Vida plena, muita saúde, amor e paz, minha amada Maya!! Amo-te!!! 


Saudações maternas,

Biazinha

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Fim do terceiro trimestre: diário íntimo

Já estamos na semana 35 mais dois dias. Hannah chegará, em teoria, em 4 semanas e cinco dias. Ontem, fomos fazer um dos últimos ultrassons (oxalá!), e fiquei estupefata com o tamanho e o peso da mocinha: 45 cm e 2,6 kg! São ótimos valores para a idade gestacional em que estamos, segundo a obstetra que nos fez o exame. E esses valores me deram a dimensão real do peso que ando carregando e da velocidade com que passa o tempo! Muito em breve Hannah estará aqui, com a gente, e não sei falar dessa alegria!

Uma coisa bacana é que ela já está cefálica (estava pélvica na última consulta com o obstetra) e agora já estamos no caminho para o tão sonhado parto natural. A natureza segue seu curso, lindamente! :)

O fim do terceiro trimestre é cansativo, apesar de tudo. O corpo já pesado, as posições incômodas para sentar, dormir e caminhar; o danado do refluxo que tem me atormentado nas últimas semanas... Mas tudo vale a pena quando penso no propósito de viver a gestação: Hannah vai chegar!

O clima aqui está muito seco, tenho outra vez problemas alérgicos, dificuldade para respirar pelo nariz, cansaço, tosse com secreção. Da vez anterior que adoeci - de maio para junho - a solução foi tomar antibiótico e antialérgico, mas, desta vez, não penso em repetir a dose de jeito nenhum. Vou tentar ir a uma consulta com homeopata, vamos ver se consigo horário.

Estão em andamento o enxoval da pequena e o seu ninho. Outra vez teremos bebê recém nascido com seu chorinho dengoso e cheirinho de roupa lavada com sabão de coco. Outra vez uma criaturinha cheia de dobrinhas na pele e um mundo de sonhos para sonhar e viver!

Tenho sentido muuuuuita ansiedade, principalmente porque ainda me restam sete dias de trabalho pela frente e preciso de energia para sair de casa e para estar daqui pra ali. Quando eu finalizar tudo, será ótimo, porque poderei me concentrar em terminar os últimos detalhes do que precisa ser feito.

Que chegue logo o fim de julho e que eu possa ir dando cabo dessa ansiedade louca!

Saudações maternas,

Biazinha

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Parir: verbo transitivo

O que vou escrever aqui, agora, é um desabafo, e não quero que seja tomado de outra maneira, nem que seja entendido como um discurso que queira adeptos, ou réplicas raivosas. Dito isso, começo a traçar minhas linhas...

Vejo o parto como um tema ao redor do qual giram discursos românticos e realistas. Tomo essas duas palavras - "romântico" e "realista" - em suas acepções originais: o romântico, eu o tomo como aquele que passa pela idealização, associado a valores como bom, puro, intenso, selvagem, essencial; o realista, em contrapartida, tomo como desiludido, ácido, cínico, perpassado pela civilização, pelo que oferece a cidade e a máquina e embebido dos valores da Medicina, da Ciência, do conhecimento acadêmico e da técnica. O romântico se volta para o primitivo, para os sentimentos puros, para a essência humana tida como boa, como natural. O realista se constrói sobre a cidade, o lucro, o trabalho em série, a técnica que escraviza em lugar de libertar.

Vejamos como se delineia meu raciocínio, vamos amadurecê-lo juntos. 

O que é parir? Primeiro vamos dissecar esse verbo tão bonito: parir. Parir vem do latim parere, e tem a mesma origem de aparecer, surgir. Segundo o Aurélio, é: verbo transitivo. Dar à luz, falando-se da fêmea vivípara quando expele do útero o ser que gerou. Muito bem, pois a fêmea é quem expele o serzinho que está ali. Estamos falando de um processo ativo, então. Pela definição do dicionário, a fêmea é o sujeito que realiza a ação. Isso se aproxima, então, da definição romântica: a natureza realiza seu papel, dá à fêmea a capacidade de realizar o trabalho de dar um ser à luz. Nascer e parir são ações naturais, concordam? Isso se aproxima dos conceitos que proponho como românticos, pois nada mais selvagem, primitivo, que uma fêmea uivando de dor durante as contrações uterinas e dando à luz seu rebento.

Parir é intenso. Parir é entrar em comunhão com a natureza que nos criou e ser como todas as mamíferas que parem. E há quem leve esse conceito romântico ao extremo, há quem seja ultra-romântico.

Parir, segundo os moldes realistas, depende da civilização e da técnica. Nada de ser bicho, nada de uivos e gemidos. Parir tem que estar cercado de assepsia, do cheiro de éter (ops! Isso parece romantismo também, mas não é!), do ambiente hospitalar, da técnica criada para padronizar a ação de nascer. O corpo domesticado pela civilização é posto na horizontal, ligado a máquinas e monitores, e tem um tempo estabelecido para que o ser gerado no útero seja retirado com engenhosidade e perícia. 

Se o realismo aprecia a técnica, é com ela que ele vai dominar os processos naturais de nascer. Entra em ação o médico. E sai de cena o verbo parir. Quem traz o ser à luz, agora, não é mais a mãe, é o médico, imbuído dos conhecimentos que vem da antiguidade clássica e que foram sendo avalizados ao longo de séculos de tradição na nossa sociedade ocidental. A pergunta realista é: Por que parir de maneira selvagem quando se pode ter a Ciência a seu favor?? 

A fêmea perdeu sua força primitiva quando foi levada ao hospital. Ela foi deitada em uma cama, dopada com anestésicos, teve seu corpo cortado, esqueceu como expelir do seu útero o bebê gerado em seu ventre. O médico é quem faz o parto agora. Hoje em dia, pergunta-se às amigas: "Quem fez o seu parto?", "Ah, foi o Dr. Fulano de tal"... A mulher se esqueceu como fazer força para ajudar a natureza, separou-se do trabalho da natureza presente no parir, no "surgimento" de um novo ser sobre a face da terra. 

Gosto quando Eduardo Galeano usa a palavra divórcio para referir-se às cisões provocadas pelo ser humano para impor mudanças culturais. E vejo que há um divórcio lamentável entre o corpo da mulher e o parto. Nós, mulheres, nos distanciamos do parir, esquecemos qual é a forma, o caminho que devemos atravessar da gestação ao parto, e entregamos nas mãos de médicos o momento mais mágico que a natureza nos deu: dar à luz nossos filhos. Tememos a dor, essa vilã que a medicina tenta domesticar com suas drogas e fármacos poderosos. Tememos que a passagem de um bebê nos dilacere o canal vaginal. Muitas mulheres sentem o parto como grotesco e veem na cesárea eletiva a forma civilizada de nascer. Marca-se o dia e a hora, como uma ida a um evento pomposo. Não se sente dor (Efêmera ilusão!...), não se vê nada, não se sente nada mesmo! Acho, inclusive, que nem emoção se sente. :(

Não é por acaso que já ouvi piadas dizendo que as mulheres que desejam parto natural são como aborígenes. Associa-se o parto natural a algo selvagem. A mulher "civilizada", a mulher das grandes metrópoles tem que passar por "procedimentos controlados", ter filhos "em série", nas "maternidades-fábricas". Nada mais realista para o nascimento contemporâneo: o medo a perder o controle, a libertar a selvageria do nascer, a perder a compostura, tempo, dinheiro, a desperdiçar o conhecimento médico quando se escolhe parir em comunhão com o tempo da natureza... E a associação entre parto natural e aborígenes, além de preconceituosa e infeliz, é lamentável, porque ignora um conhecimento ancestral e extremamente respeitoso com o corpo e a natureza praticado pelos indígenas.

A conivência entre mulheres-separadas-do-seu-corpo e determinada linha da medicina fez surgir o nascimento asséptico escolhido no calendário. Agenda-se o dia de ir ao hospital e fazer o milagre da vida brotar. Mas quem o faz? O obstetra não quer perder o seu dia de consultas; a mulher não quer perder o quê? Concordo que ninguém quer sentir dor, dor não é uma coisa agradável para ninguém, mas há formas de encarar a dor, de driblá-la. A dor é uma forma de vivenciar esse caminho, apenas isso. Há gente que nem pensa na dor quando vivencia o trabalho de parto. A alegria de ver o filho nascer, o poder que se sente ao ver que seu corpo é capaz de parir, a dança que a dor realiza sobre a bacia e sobre o útero são sinais de que a hora de ter o filho nos braços se aproxima, ela é uma dor com hora marcada para terminar! Depois dessa dor, vem uma paz imensa. Depois que parimos, surge a mãe. Surge a mãe junto com o surgimento do filho. 

Não quero fixar um olhar ultra-romântico sobre minha gestação e o parto da minha segunda filha. Não me vejo sobre radicalismos, pois os mesmos nos deixam cegos para aquilo que pode falhar, e aí o risco de frustração é certo. Quero me preservar de possíveis frustrações e decepções. Não quero me frustrar se o parto de agora não for perfeito, até porque não acredito em perfeição. Não quero me frustrar se as coisas não forem como eu espero. Em síntese, eu não quero esperar muito mais do que sei ser capaz. E parte de mim é romântica quando me reconheço como parte da natureza e quero essa comunhão ancestral com a maneira como as mulheres da minha família pariram ao longo de gerações. Também porque quero um parto respeitoso, e creio que e preciso uma dose de realismo para lutar por isso se for preciso. Quero me sentir parindo de verdade. Que meu corpo tenha o seu tempo respeitado, que Hannah nasça na hora em que for a certa. Sei que o hospital que escolhi tende a respeitar o parto e o nascimento. Sei que aí eu terei um parto humanizado. Mas não quero que minhas expectativas sejam castelos no ar. Não quero dar espaço para desilusões. 

Proponho a retomada do corpo pela mulher. O corpo é seu, é meu, e nenhum médico deve nos impor como nossos filhos devem nascer. Devemos nos conectar com a essência do feminino, com nossos úteros, pois aprendi que eles têm muito a nos dizer. Vivenciei uma experiência muito mágica e bonita relacionada ao feminino poucos dias antes de ficar grávida. Essa experiência tinha relação com a percepção do útero e da conexão que nossa alma pode estabelecer com ele. Essa vivência pode ser entendida também pela ótica do sagrado por alguns, mas, para mim, ela foi corporal e também foi anímica. Minha alma e meu útero me mostraram que há uma conexão primitiva aí e só precisamos nos ligar a ela. Parir passa por aí, nascer também. Minha proposta contemporânea para o nascimento passa pela Vida: é preciso que nos conectemos outra vez com a Vida, com perceber nosso corpo e nossa alma e a ligação entre eles. Nascer merece respeito em seu tempo, em sua dinâmica, em seus processos. A sociedade do consumo - lucro, tempo curto, pressa, velocidade, superficialidade, fugacidade - nos desconectou de viver profundamente as experiências que realmente valem a pena e nos alimentam a alma. E todas as engrenagens terminam conectadas a isso: médicos, hospitais, clínicas, corpos... Nascer merece respeito. Nascer merece tempo. E não é o tempo dos relógios, meus caros; é um tempo cíclico que precisa ser resgatado na natureza e no feminino.

Saudações maternas,

Biazinha