segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sódio e ferro nas papinhas caseiras

Imagem tirada daqui, ó.

Misturas caseiras para bebês têm mais sódio e menos ferro do que deveriam

O problema pode gerar anemia e tendência ao aumento da pressão arterial. Especialistas defendem que não se use sal na comida das crianças

Publicação:04/11/2010 08:00Atualização:04/11/2010 09:28


Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e na Universidade do Estado do Pará (Uepa) constatou que as papinhas feitas em casa para crianças entre 6 e 18 meses contêm mais sódio que ferro. O sódio está ligado ao aumento da pressão arterial, enquanto a falta de ferro pode causar anemias, além de acarretar prejuízos irreversíveis das funções cognitivas, se a deficiência começar na infância. O resultado da pesquisa alerta para a necessidade de se revisar os métodos utilizados no preparo das papinhas. Assim como é importante selecionar ingredientes frescos e nutritivos, é também necessário entender que o sal é indispensável para o paladar de alguns adultos, mas não para as crianças.

A partir da amostra de papinhas feitas com feijão, arroz, macarrão, carne e hortaliças, recolhidas em domicílios de diferentes níveis econômicos, os pesquisadores concluíram que, em todos os estratos socioeconômicos, as papas para o almoço apresentaram baixo teor de ferro e alto de sódio. Contudo, a preocupação maior veio dos lares mais humildes, pois 95% das casas pesquisadas ligadas a esse universo apresentaram o resultado.

Segundo a coordenadora do Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos da Unifesp, Tânia Beninga de Morais, as crianças com menos de 1 ano precisam consumir pelo menos 11mg de ferro por dia e, nas casas pesquisadas, a quantidade encontrada era de apenas 6mg. “Essa taxa é difícil de ser atingida pela alimentação normal, pois as carnes têm teor de ferro relativamente baixo frente à capacidade gástrica reduzida das crianças nessa fase da vida”, explica. A médica complementa que crianças anêmicas, mesmo tratadas, mais tarde podem ter desempenho escolar prejudicado.

Em relação ao sódio, a preocupação é ainda maior. A quantidade da substância encontrada nas amostras em 89,2% dos lares mais pobres foi de 200mg. Tânia acredita que o uso excessivo de sal de cozinha é comum na culinária brasileira e que esse hábito é refletido também no preparo das papinhas das crianças. “Educar o paladar dos lactentes para alimentos com baixo teor de sal é importante, uma vez que a ingestão em grande quantidade está associada ao aumento da pressão arterial no futuro”, aconselha.

Paciência
De acordo com Tânia, o primeiro ano de vida da criança é caracterizado pela velocidade do crescimento e que, para isso, elas precisam de mais nutrientes do que as crianças mais velhas. “Até o sexto mês, o leite materno é o melhor e mais completo alimento. Após essa idade, é importante introduzir outros alimentos na dieta”, afirma. Tania explica que, no início da transição, quando são inseridos alimentos sólidos na alimentação da criança, é importante ter paciência e persistência, uma vez que estudos mostram a necessidade de expor o alimento à criança de cinco a sete vezes para que ela o aceite. “O Ministério da Saúde sugere 10 passos para alimentação saudável, entre eles, oferecer cereais e tubérculos e evitar açúcar e enlatados, além de recomendar o uso moderado de sal de cozinha”, ressalta. O estudo é parte da tese de doutorado da pesquisadora Marcia Bitar Portela Neves, da Uepa, e foi co-orientado por Tânia.

O pediatra Wilson Marra explica que, até os 3 meses de idade, o bebê possui um armazenamento de ferro no fígado, que é liberado aos poucos no organismo, e que por isso não é necessária a suplementação. No entanto, após essa idade, é importante adicionar na papinha das crianças ingredientes ricos em ferro, como gema de ovo e fígado de boi. Marra conta que, teoricamente, o organismo humano não precisa de mais sal do que aquele que já faz parte dos alimentos. “Colocar sal na comida é invenção do homem para apurar o sabor da comida”, ressalta. Ele afirma que, quanto menos sal, melhor.

Para o pediatra, mesmo que as mães cozinhem a papinha sem sal, é importante já preparar o momento em que os filhos passarão a comer a mesma comida dos pais: por isso, prega, é importante que a quantidade de sal ingerida por todos da casa seja pequena.

Práticas e seguras
Na casa da psicóloga Marilan Santuche, 31 anos, mãe de Helena, 1 ano e 5 meses, a papinha da bebê não leva sal. A mãe explica que, embora não saiba qual é a quantidade recomendada de sal, por enquanto ela não vê a necessidade de adicioná-lo à comida para não sobrecarregar o paladar da criança. “O sabor dos alimentos ainda é muito novo. Talvez a Helena estranhe se eu apurá-lo com sal”, conta.

Marilan diz que a sua preocupação diária não é com o sal, e sim com os alimentos necessários para a nutrição de Helena. Segundo ela, as papinhas que prepara em casa são compostas por carboidratos, legumes, verduras e proteínas e, quando orientada, sempre enriquece com novos alimentos. Quando a alimentação é feita fora de casa, a mãe recorre às papinhas industriais e confessa não saber a quantidade de sódio presente no alimento. “Tenho medo de levar a papinha feita em casa e, com o armazenamento errado, a comida acabar estragando”, preocupa-se.

O pediatra Wilson Marra explica que as mães não precisam se preocupar com as papinhas industriais, pois as empresas são rigorosas com a quantidade necessária de sal. “Essas papinhas são práticas e não oferecem perigo. Pelo contrário, elas possuem a quantidade necessária de nutrientes”, acredita.

Guia prático
Para auxiliar os brasileiros a optarem por alimentos nutritivos, o Ministério da Saúde criou um guia prático de bolso com 10 passos para a alimentação saudável, destinado a pessoas com mais de 2 anos. Entre as dicas, estão a ingestão de óleos e o consumo de carnes, cereais e carboidratos. O guia apresenta ainda uma tabela com o número de porções adequadas para cada alimento e 50 exemplos de porções para montar um cardápio. O guia pode ser encontrado no ministério ou obtido por meio de download no site www.saude.gov.br.

In: Correio braziliense

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